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Colorismo e o Mito da Democracia Racial no Brasil

Atualizado: 10 de jul. de 2021

Desde o colonialismo até hoje nascem das terras brasileiras pessoas de todos os tons de pele e características físicas. Assim como Arnaldo Antunes retrata na letra de sua canção “Inclassificáveis”, aqui somos mestiços, mulatos, cafuzos, pardos, mamelucos, sararás, crilouros, guaranisseis e judárabes.

Por um bom tempo acreditou-se no mito da democracia racial, conceito descrito originalmente por Gilberto Freyre, sociólogo brasileiro, em 1933, no livro Casa-Grande e Senzala. O termo representa a defesa de que no Brasil existe uma igualdade étnica, o que já fica claro que está longe do real.

A gradação de cores da pele conduz o preconceito ou privilégio que impacta a vida de um indivíduo. O colorismo é uma variável dentro do racismo estrutural. Não atua pela ancestralidade, pois é um reflexo das características físicas, advindas da genética. Ou seja, tem a ver com o tom de pele, traços físicos e fenótipos apresentados por cada um.

Segundo Renata Ribeiro Francisco, Doutora pela Universidade de São Paulo, historiadora e pesquisadora do CEDHAL (Centro de Estudos de Demografia Histórica da América Latina), o conceito colorismo surgiu em 1982 e representa uma forma de discriminação que foca na questão da cor, especificamente. “É um debate que vai surgir sobretudo em países que foram colonizados pelos europeus”, diz ela.

A classificação de quem é mais ou menos não-branco, aceito com maior ou menor facilidade dentre a sociedade, é fruto de uma construção social que põe em jogo estereótipos que permeiam o inconsciente coletivo a favor do embranquecimento racial.

O colorismo pode gerar exclusão de uma parcela da população não por conta de índole, ações e capacidade intelectual, mas por apresentar fenótipos negroides, como nariz largo, cabelo crespo e pele escura. Com isso, a segregação através de uma paleta de cores e traços pode conduzir à conflitos, até mesmo dentro da própria comunidade negra.

Tal diferenciação pode ser percebida nas produções da teledramaturgia brasileira, em que atrizes de pele escura e demais fenótipos, atuam em papéis de subalternidade. Enquanto isso, atrizes negras, com a pele mais clara e fenótipos próximos do padrão europeu, atuam em papéis de maior destaque, como executivas e até protagonistas.


Tais questões do colorismo estão diretamente atreladas à autoestima e afetam as mulheres em maior quantidade do que os homens, já que também adentra o aspecto profissional, mercado da beleza, estética e afeto, como relembra a historiadora Renata Francisco.



De acordo com Regina Marques, Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicanálise, Identidade, Negritude e Sociedade da UFRB (Universidade Federal do Recôncavo da Bahia), a violência do racismo é tão grande do ponto de vista psíquico, que as pessoas tendem a rejeitar quem se aproxima dos fenótipos negros.


Não existe um legado formal sobre o crime praticado contra a condição humana durante a escravidão. Talvez, essa seja uma das razões pelas quais o sofrimento de determinada parcela da população possa ser, equivocadamente, diminuído.


É possível que algumas pessoas passem por um processo de negação do racismo social e pensem que existe algum problema com elas. Você que se identifica, tente não abraçar este sentimento. Se fortaleça pela consciência de que o tom da sua pele não te torna superior ou inferior, em nenhum aspecto.


Para a psicanalista Regina Marques, é preciso buscar personalidades para além da mídia, invisibilizadas, de modo a contribuir tanto no processo identitário quanto para uma postura de enfrentamento, resistência e potência.


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